Atividade de interpretação de texto da crônica de Fernando Sabino para o 8º ano e 9º ano com respostas.
Planejamento para o professor
Objeto do conhecimento: Crônica.
Habilidade da BNCC: (EF89LP33) Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos, minicontos, fábulas contemporâneas, romances juvenis, biografias romanceadas, novelas, crônicas visuais, narrativas de ficção científica, narrativas de suspense, poemas de forma livre e fixa (como haicai), poema concreto, ciberpoema, dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores. (EF89LP35) Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais, minicontos, narrativas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos, e, no caso de produção em grupo, ferramentas de escrita colaborativa.
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Leia o texto e resolva às questões 1 – 20:
A ÚLTIMA CRÔNICA
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…”. Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Fernando Sabino (1923-2004)
1. Localize no texto os seguintes elementos da narrativa:
- a) Foco narrativo (narrador-personagem ou narrador-observador):
- ____________________________
- b) Lugar onde a história se passa:
- ____________________________
- c) Personagens:
- ____________________________
2. Qual a profissão do narrador do texto?
3. No texto “A última crônica”, o autor Fernando Sabino começa mostrando, aparentemente, uma rotina que foi modificada inicialmente por qual acontecimento?
- a) A compra de um cafezinho.
- b) A humildade do pai da criança.
- c) A chegada de um casal com sua filha.
- d) A comemoração de um aniversário.
4. A finalidade do autor ao entrar no botequim foi:
- a) antecipar o momento de escrever.
- b) tomar um café para depois escrever.
- c) relaxar sua mente após um dia de trabalho.
- d) buscar algo que fugisse da realidade.
5. O autor faz uma descrição corriqueira no cotidiano dos brasileiros trazendo uma reflexão sobre alguns problemas sociais. Uma temática social apresentada pelo texto é:
- a) a mobilidade urbana.
- b) os direitos das minorias na sociedade.
- c) a desigualdade econômica.
- d) os problemas educacionais
6. O narrador descreve a cena onde se passa a história com uma grandeza de detalhes que faz o leitor realmente crer que ele estava lá apreciando. Qual trecho do texto é possível concluir que o casal que entrou tentava ser discreto no botequim?
7. A descrição é um relato detalhado sobre algo ou alguém, que acontece através da enumeração de características ou eventos. Qual dos adjetivos abaixo NÃO é uma característica da menina de três anos apresentada pelo texto?
- a) Tímida.
- b) Ousada.
- c) Curiosa.
- d) Simples.
8. Qual o trecho do texto revela que a família não estava ali apenas para comer?
- a) “… toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa.”
- b) “Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.”
- c) “Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se…”
- d) “A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras…”
9. O autor escreveu o texto em primeira pessoa, transmitindo a impressão de que realmente viveu a situação. Ele se posicionou em relação à cena, demonstrando sua sensibilidade e seus sentimentos. Escreva abaixo um trecho que está escrito em primeira pessoa.
10. No trecho: “Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual.”, o que o autor quis se referir ao falar um “discreto virtual”?
11. No trecho: “… quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico…”, as palavras grifadas introduzem ideia de:
- a) adição.
- b) oposição.
- c) explicação.
- d) alternância.
12. O narrador usa alguns diminutivos quando se refere à criança, como, por exemplo: “arrumadinha, perninhas, negrinha …”. Esse uso como forma de nomear as coisas pelo narrador demonstra
- a) tamanho.
- b) exultação.
- c) compaixão.
- d) alegria.
13. Sobre o texto, assinale a alternativa FALSA:
- a) Os pais em algum momento ficaram envergonhados pela situação.
- b) O narrador avista pureza naquela situação vivenciada no botequim.
- c) A criança contemplou aquele momento de forma deslumbrante.
- d) O retrato da realidade presente nesta crônica se revela pela altivez.
14. Localize no texto uma expressão que mostra uma atitude de cuidado da mãe com sua filha.
15. Há uma linguagem informal em:
- a) “O pai se mune de uma caixa de fósforos…”
- b) “Ninguém mais os observa além de mim.”
- c) “Parabéns pra você, parabéns pra você…”
- d) “… o pai risca o fósforo e acende as velas.”
16. Localize no texto a que / quem os termos destacados estão se referindo:
- a) “Passo a observá-los.”
- _________________________
- b) “… inclinando-se para trás na cadeira…”
- _________________________
- c) “… que merecem uma crônica.”
- _________________________
- d) “… larga-o no pratinho…”
- _________________________
- e) “… torna a guardá-las na bolsa….”
- _________________________
17. No trecho: “… muito compenetrada, cantando num balbucio…”, a palavra destacada poderia ser substituída, sem alteração de sentido, por:
- a) concentrada.
- b) amorosa.
- c) temerosa.
- d) tímida.
18. O trecho abaixo cuja palavra grifada introduz ideia de oposição é:
- a) “… mas acaba sustentando o olhar…”
- b) “O pai, depois de contar o dinheiro…”
- c) “Assim eu quereria minha última crônica…”
- d) “… ou do irrisório no cotidiano de cada um.”
19. A finalidade do texto “A última crônica” de Fernando Sabino é:
- a) criticar o governo ausente nas políticas públicas.
- b) fazer uma análise crítica das situações cotidianas.
- c) informar fatos do dia a dia relevantes para a sociedade.
- d) apresentar um ponto de vista sobre um assunto polêmico.
20. Em sua opinião, que lição de vida o texto traz para o leitor?
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